“Forrest Gump”, de Winston Groom

Sempre amei o filme do Forrest Gump. Daqueles que a gente guarda no coração como conforto. Mas ao ler o livro, percebi que o Forrest da literatura é outro. Ainda é doce, ainda é cativante, mas também é ácido, sarcástico e muito mais crítico. Não tem só ternura e superação. Tem também um retrato bem mais cru do mundo ao redor dele. E essa diferença muda tudo.

Enquanto o cinema suaviza, o livro escancara. Forrest vive situações ainda mais absurdas, mas reage com uma lucidez estranha, quase desconcertante. Não é o “bobalhão fofo” que Hollywood embalou. É um Forrest que incomoda, que questiona, que ri da tragédia, e às vezes com razão. A ingenuidade existe, claro, mas é atravessada por um senso de crítica social que surpreende. E isso faz com que a leitura ganhe outra camada.

Talvez o que mais me marcou foi perceber como o livro subverte o que a gente espera dele. É engraçado, sim, mas também é triste e um pouco revoltante. Forrest é um personagem que sofre, que é usado, que é subestimado. E o livro não passa pano. Ele escancara isso com ironia. Não é só uma história de um homem diferente vivendo situações incríveis. É uma história sobre como o mundo trata quem é considerado diferente.

Sabe o que fica na cabeça depois? O quanto o filme suavizou tudo. E claro, entendo: é Hollywood, é emoção, é bilheteria. Mas ao deixar Forrest só no papel do “ingênuo bonzinho”, a gente perde muito do que o livro provoca. Forrest no livro é mais complexo, e o mundo ao redor dele é mais cruel e injusto. Tem crítica ali que passa batido no cinema. E isso faz diferença.