O homem que tentou seguir todas as metas no mesmo dia
Uma tentativa desesperada de reorganizar a vida inteira em apenas um dia
- Publicado em
- por Jean Guimarães

Acordou às cinco, tomou água com limão, correu doze quilômetros, leu meio livro do Harari, fez skincare, limpou a caixa de e-mails e almoçou quinoa com propósito. Às três da tarde, meditava em posição de lótus, tentando não surtar com a fome. Às sete, chorava no chuveiro abraçado num panetone vencido. Dormiu cedo. Sonhou que 2024 já tinha acabado.
Na véspera, tinha feito uma lista com trinta e quatro metas. Não era uma lista, era um tratado. Incluir mais ômega 3 na dieta, praticar gratidão, fazer jejum intermitente, responder todos os áudios acumulados desde janeiro. Estava decidido:
“não deixaria pra amanhã o que podia transformar em burnout hoje.”
Entre uma prática de yoga e outra tentativa de aprender italiano em um app gratuito, percebeu que sua pele ardia de tanto autocuidado. No bolso da calça de treino, carregava três frases motivacionais dobradas com cuidado. Toda vez que sentia o mundo girar de fraqueza, lia uma e sorria com os olhos de quem fingia entender o sentido da vida.
Às quatro da tarde, já tinha passado pela fase dos sucos detox, concluído um curso online sobre escrita criativa e separado roupas pra doação. Fez um pix de dez reais pra um projeto social. Seguiu um padre no Instagram. Enviou mensagens de carinho pra amigos há muito esquecidos, tios distantes e uma professora do ensino fundamental que ele nem sabia se estava viva.
Às cinco, uma crise existencial leve. Às seis, uma vontade de comer hambúrguer. Às sete, o choro. Às oito, desinstalou o aplicativo de escrita e o do yoga também. Às nove, riscou todas as atividades e escreveu ao lado em letras miúdas na agenda: “tentar de novo na semana que vem”.
No fundo, sabia que nenhuma revolução pessoal acontece em um único dia. Mas ao menos agora podia dizer que tentou.
E, honestamente, isso já era mais do que fez nos últimos dez anos.

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