O peso do que não se diz
Tem livros que gritam. Outros que sussurram. Aline Bei escolheu o segundo caminho. Mas não por falta de coragem. Pelo contrário. Só quem entende o tamanho da dor sabe que ela não precisa berrar para ser sentida. O peso do pássaro morto é um daqueles livros que a gente sente no corpo. E talvez por isso, por essa dor escrita com silêncios e pausas, ele seja tão bonito. E tão devastador.
A forma como Aline escreve é um soco com luva de veludo. O texto vem quebrado, como a protagonista. Vem em pedaços, feito a própria vida. Mas nunca frio. Nunca distante. O que ela faz com a linguagem é um tipo de poesia cotidiana, onde não sobra espaço para enfeites, mas também não falta afeto. E talvez seja isso que mais me tocou: a forma como a tristeza se acomoda nas brechas do que não se fala.
Uma tristeza que sussurra
A protagonista não tem nome. Ou tem tantos, que acaba sem um. Ela é todas as mulheres que passaram por dores grandes demais quando ainda eram pequenas demais. Ela é as perdas que a gente carrega, o silêncio dos outros, a ausência de sentido, os erros cometidos por amor, por descuido, por desespero. E mesmo assim, ela é. Continua sendo. Existe. É quase um ato de resistência.
A vida dela não é espetacular. Nem a escrita pretende ser. E talvez isso seja a coisa mais linda do livro. A gente não precisa de grandes reviravoltas para sentir que alguma coisa mudou. Basta um gesto. Uma lembrança. Um cheiro. Um corpo que deixa de existir. Uma amizade que se esgarça. Um filho que nasce e depois vai. Aline faz tudo isso parecer simples. E é justamente aí que mora o seu talento.
Quando o que não se aguenta precisa sair
Não tem capítulo, não tem aspas, não tem divisão clara. A leitura flui como um rio triste, mas constante. A protagonista envelhece e a gente envelhece junto. Sofre, tropeça, se ilude, se refaz. E quando percebe, o livro acabou. E você não está mais no mesmo lugar.
Esse é o tipo de leitura que não vai agradar a quem espera respostas. Mas vai acolher quem só queria se sentir menos só. E talvez seja essa a magia de O peso do pássaro morto: não a de explicar a dor, mas a de acompanhá-la. E fazer com que a gente, mesmo que por um instante, a carregue com menos solidão.

Estilo: Literatura Nacional
Nota da Leitura:
★ ★ ★ ★ ★
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