A dor nas costas que virou atração principal

Quando a verdadeira atração do festival é a lombar reclamando em tempo real

Ninguém vai a um festival de música esperando sair de lá com lembrança ortopédica. Mas foi exatamente o que aconteceu. Entre um show e outro, a dor nas costas começou tímida, como banda de abertura que ninguém conhece. Discreta, meio desafinada, quase ignorada pelo público.

Duas horas depois já era headliner. Ocupava o palco principal, roubava a cena, dominava a setlist da noite. Cada acorde virava espasmo. Cada batida de bumbo fazia eco na lombar. O público gritava, mas a única voz interna repetia “nunca mais fico em pé tanto tempo.”

Os amigos dançavam, pulavam, erguiam copos plásticos como se a vida fosse infinita. Enquanto isso, a dor fazia solo de guitarra nas vértebras. Luzes piscavam, telões transmitiam clipes psicodélicos, e a coluna só pensava em pedir cadeira de praia.

No ápice da madrugada, a dor ganhou direito a bis. Veio dobrada, com direito a coreografia involuntária de inclinar para o lado e fazer cara de quem ainda está se divertindo. Alguém até perguntou se estava curtindo o show. A resposta foi um sorriso amarelo, acompanhado do pensamento sincero: “estou curtindo o show da hérnia.”

Na saída, ninguém lembrava direito das músicas. Só da promessa feita com a convicção de quem já não sente os joelhos: no próximo festival, ingresso para área VIP. Com cadeira, encosto e, se possível, fisioterapeuta incluso.

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