“A Cabeça do Santo”, de Socorro Acioli

Fé no improvável

Tem livro que parece esquisito demais para dar certo. E justamente por isso, dá. A Cabeça do Santo, da Socorro Acioli, começa com um protagonista enfiado (literalmente) dentro da cabeça oca de uma estátua de santo gigante, fugindo da própria vida. E dentro desse vazio, ele encontra vozes. É uma história sobre fé, mas não aquela de cartilha; é a fé torta, remendada, que aparece quando tudo já se quebrou e ainda assim sobra alguma coisa pra acreditar.

 

O livro me fisgou pela sensibilidade camuflada no absurdo. Samuel não é herói, nem mártir. É só um cara perdido, abandonado e amaldiçoado pela própria história. Mas mesmo imerso na solidão, ele encontra nas vozes misteriosas que surgem do nada ou talvez de algum lugar dentro dele uma chance de ouvir e ser ouvido. Tem um quê de realismo mágico aqui, mas muito mais nordestino que europeu. É o tipo de surreal que nasce do concreto: da falta de comida, de afeto, de rumo.

 

Mais do que sobre milagre, A Cabeça do Santo fala sobre ausência. A ausência que grita mais do que presença, que molda quem a gente é. E é aí que a história toca de verdade: na carência afetiva, no abandono emocional, na busca por sentido quando o mundo já desistiu da gente. A escrita da Socorro Acioli é direta, mas cheia de poesia nas entrelinhas. Ela escreve como quem reza sem saber ao certo se alguém vai escutar. E talvez por isso mesmo seja tão potente.

"É leitura pra quem tem fé, mesmo que torta. Ou pra quem perdeu a fé e está tentando recuperar só um pedacinho dela."

Terminei o livro sem saber se acredito em milagres. Mas fiquei com a sensação de que amar alguém, mesmo com tudo contra, já é milagre o suficiente. A Cabeça do Santo é para quem não está buscando respostas, mas topa escutar as vozes que vêm do lado de dentro. É leitura pra quem tem fé, mesmo que torta. Ou pra quem perdeu a fé e está tentando recuperar só um pedacinho dela.

Estilo: Realismo Mágico

Nota da Leitura:

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