“A cidade do sol”, de Khaled Hosseini

Duas mulheres, um país em ruínas e uma história que dilacera

Se tem um livro que me destruiu e me reconstruiu ao mesmo tempo foi A cidade do sol. Não é exagero. Terminei com os olhos inchados, a garganta travada e o coração esfarelado. A história de Mariam e Laila, duas mulheres de origens bem diferentes que acabam unidas pelo sofrimento e pela guerra, é daquelas que não dá pra ler e seguir em frente como se nada tivesse acontecido. A gente sente na pele. Ou melhor, na alma.

Hosseini escreve com uma sensibilidade absurda. Ele não grita. Ele mostra. E o que ele mostra é pesado. É o Afeganistão sob a ótica feminina, o que significa violência doméstica, silenciamento, opressão, ausência total de liberdade. Mas também significa afeto, coragem e uma capacidade quase sobrenatural de resistir. Mariam e Laila são personagens que marcam. Que ficam. Que doem. E que, mesmo assim, inspiram.

Dor que atravessa o mundo

O livro pode se passar do outro lado do planeta, mas toca em feridas que não têm fronteira. Fala de empatia, da força que nasce da dor compartilhada e de como, mesmo no caos, é possível encontrar beleza. Em um país destroçado por conflitos e regimes brutais, Hosseini desenha uma amizade improvável que vira laço, porto seguro e salvação.

É um livro muito duro. Não dá pra fingir que não é. Tem cenas fortes, momentos que machucam. Mas nunca é gratuito. A dor tem um porquê. E é justamente por ser tão real que nos faz olhar com outros olhos pra realidade de tantas mulheres que vivem em contextos semelhantes, mesmo fora da ficção. Dá uma sacudida, uma chacoalhada boa na nossa zona de conforto.

Tem quem diga que o livro é melodramático. Eu acho que ele é humano. Intensamente humano. E como negar emoção diante de tanta injustiça? Como passar ileso por uma narrativa que, mesmo ambientada em uma cultura tão diferente, se comunica com a nossa no mais básico dos sentimentos: a vontade de ser livre, de amar, de existir?

“A dor de Mariam e Laila não cabe em estatística nenhuma"

Se você leu O caçador de pipas, já conhece o estilo do autor. Mas aqui, pra mim, ele alcança outro nível. A delicadeza com que trata a dor feminina, a construção do cenário político do Afeganistão, a forma como os capítulos vão alternando entre as duas protagonistas até que suas vidas se cruzam… tudo é muito bem feito. Tudo é potente, mas sem precisar gritar.

A cidade do sol não é só um livro triste. É um livro necessário. Porque além da tristeza, ele mostra a beleza da resistência, a força das conexões improváveis e a esperança que teima em florescer mesmo onde tudo parece devastado.

Estilo:Romance

Nota da Leitura:

Gostou do livro?

Se for comprar, usa meu link da Amazon. Você não paga nada a mais e ainda ajuda o Cotidiamenidades a seguir firme. Você leva o livro e eu ganho uns trocadinhos pra manter o café e as crônicas em dia.

Deixe seu comentário