A mudança que mudou de ideia
Quando a mudança resolve se mudar sozinha
- Publicado em
- por Jean Guimarães

Dizem que poucas coisas dão tanto trabalho quanto mudar de casa. O que ninguém conta é que a mudança também tem vontades próprias.
No início parece simples. Caixas, fita adesiva, etiquetas. Mas basta começar para perceber que os objetos não colaboram. Copos se multiplicam sozinhos. Meias desaparecem no trajeto entre a gaveta e a mala. Livros resolvem pesar o triplo quando colocados juntos.
A mudança é seletiva. Guarda todos os cabos inúteis e perde justamente o carregador que você precisa no dia seguinte. Protege com plástico bolha aquela caneca lascada e esquece de embalar o vaso de vidro que vai se estilhaçar no primeiro buraco da rua.
Durante o processo, a casa antiga parece conspirar. O armário solta parafusos que nunca existiram antes. A geladeira emperra na porta como se não quisesse ir embora. A tomada revela fios escondidos só para constranger quem jurava que sabia de elétrica.
No novo endereço, a mudança decide brincar. Some com talheres por dias, deixa o travesseiro dentro de uma caixa marcada como “cozinha”, espalha roupas de inverno bem no meio da sala em pleno verão.
E quando tudo parece finalmente organizado, a mudança dá o golpe final: deixa a sensação de que algo importante ficou para trás. Talvez uma panela. Talvez um documento. Talvez só a paz de espírito que nunca entra na caixa.

Essa história te pegou de algum jeito?
Espalha a palavra, vai. O Cotidiamenidades precisa de leitores fiéis, curiosos e ligeiramente esquisitos. Igual você. Compartilha com amor (ou ironia).