A mulher que enviava cartas para o futuro

Uma crônica sobre cartas escondidas, futuros incertos e as respostas que a gente nem sabia que precisava

Ela escrevia cartas como quem guarda esperança em envelopes.
Com capricho. Letra cursiva. Tinta azul.
Dobrava em três partes, escrevia por fora:
“Abrir em 2041”
“Abrir quando estiver triste”
“Abrir quando esquecer quem é”

E colocava tudo embaixo da cama.
Como quem planta lembranças no chão.
Às vezes, deixava balas junto. Ou uma foto. Ou um fio de cabelo.
“Só pra garantir que a memória não escape.”

Acontece que um dia… o futuro respondeu.

Primeiro foi um bilhete escrito com caligrafia torta:

“Calma. Vai passar.”

Depois, uma carta longa, datilografada, assinada por Você-mesma-daqui-a-16-anos, com conselhos esquisitos sobre não confiar em gente que fala “vamos marcar”.

Começou a receber cartas com spoilers da própria vida.
Coisas do tipo “Não se preocupe com o corte de cabelo, ele cresce” ou “Sim, foi uma boa ideia sair daquele emprego.”

Às vezes, o futuro errava.
Dizia que ela adoraria morango com pimenta (ela odiou).
Ou que conheceria alguém numa terça (foi numa sexta, mas ele também sumiu depois).

Ela passou a responder.
O diálogo com o futuro virou hábito.
Deixava perguntas embaixo da cama.
Recebia respostas no armário do banheiro.

Até que um dia, parou de receber.
Nada. Nem bilhete. Nem papel de bala. Nem recado anônimo.

Ficou em silêncio por semanas.
Até perceber que talvez… talvez fosse a vez dela de ser o futuro de alguém.

Dobrou uma carta nova.
Escreveu: “Abrir quando achar que tudo é impossível.”
E deixou embaixo do banco de uma praça, com um chocolate e um Band-Aid dentro.

Vai que, né?

Essa história te pegou de algum jeito?

Espalha a palavra, vai. O Cotidiamenidades precisa de leitores fiéis, curiosos e ligeiramente esquisitos. Igual você. Compartilha com amor (ou ironia).

Deixe seu comentário