Um livro sobre futebol, sim. Mas também sobre a vida.
Quando torcer vira existir
Eu não sei você, mas tem jogo que me lembra gente. Gol que me lembra abraço. Derrota que me lembra fim de namoro. E é por isso que “Febre de Bola”, do Nick Hornby, bateu diferente. Não é um livro só sobre futebol. É um livro sobre crescer com ele. Sobre como a paixão por um clube pode moldar quem a gente é, como a gente ama e até como a gente sofre. O Arsenal é o centro da narrativa, mas podia ser qualquer time. Porque no fundo, o que importa aqui não é o time. É o torcedor.
“É como se a gente medisse a vida pelo placar do nosso time.”
O futebol como linha do tempo
Hornby mostra como o futebol funciona como uma espécie de calendário afetivo. Cada fase da vida dele está ligada a uma fase do clube. E isso é muito real. A gente lembra onde estava quando tal jogo aconteceu, com quem assistiu, o que estava vivendo na época. É quase um marcador de capítulos da vida. E é isso que torna o livro tão próximo. Porque mesmo sendo inglês, torcedor do Arsenal, com outra cultura e outro estilo de vida, parece que ele está contando a nossa história também.
Não tem herói, nem final feliz
O que mais gostei foi o tom cru. Não tem tentativa de enfeitar o futebol. Hornby não tenta vender o esporte como uma coisa mágica. Pelo contrário, ele mostra o quanto torcer pode ser frustrante, cansativo, até ridículo. Mas ainda assim, a gente continua. Porque torcer é isso. É amar sabendo que vai doer. E mesmo assim, voltar no domingo seguinte, com a camisa no corpo e a esperança no peito.
O livro é, no fundo, uma autobiografia. Mas uma daquelas escritas a partir da arquibancada. A história dele se confunde com a do Arsenal, com a dos jogos, das eliminações, dos momentos de glória (quando eles aparecem). E isso tudo é contado com um humor ácido e uma sinceridade que fazem a leitura fluir fácil. Você vai lendo e pensando: “eu também já senti isso”.
Nem todo mundo vai entender. E tudo bem.
Se você é o tipo de pessoa que acha que futebol é só um jogo, talvez esse livro não te pegue. Mas se você já chorou por causa de um pênalti perdido ou sorriu sozinho lembrando de um golaço de anos atrás, pode ter certeza que esse livro é pra você. Porque ele entende que o futebol, pra muita gente, não é só esporte. É história. É memória. É identidade.
Uma das coisas que mais me marcaram é que Hornby não tenta convencer ninguém de que o futebol é importante. Ele só mostra o quanto ele foi (e ainda é) importante pra ele. E isso basta. Quem entende, entende. Quem não entende, talvez nunca vá entender mesmo. E tudo bem. A gente segue com nossas superstições, nossas camisas surradas e aquela fé cega que só quem torce de verdade consegue carregar.
“Febre de Bola” é leve, divertido e, ao mesmo tempo, cheio de significado. É um convite pra olhar pra nossa própria história como torcedor e perceber o quanto esse amor irracional faz parte de quem a gente é. Um baita livro. Um golaço, como diria o clichê.

Estilo: Literatura de Futebol
Nota da Leitura:
★ ★ ★ ★ ☆
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