Made in Gene
Uma crônica sarcástica sobre genética, burocracia e o colapso global por causa de um pai islandês morto em 1913
- Publicado em
- por Jean Guimarães

No início parecia só mais uma inovação médica.
Inseminação artificial com seleção genética avançada.
A promessa era simples. Saúde impecável, inteligência acima da média e bochechas instagramáveis.
Adeus gravidez surpresa.
Adeus bebê parecido com o tio chato da família.
Agora os filhos vinham prontos. Modelos 2.0, direto do laboratório.
A ideia era boa. Os casais se cadastravam no sistema global, escolhiam o pacote genético ideal, tipo um menu de degustação, e pronto. Nascia o bebê perfeito.
Uma mãe do Fazendinha, por exemplo, podia receber genes de um violinista islandês falecido em 1913. Porque nada grita qualidade genética como um homem pálido que morreu de pneumonia aos 26, mas que tocava Paganini com os olhos fechados.
Os médicos diziam que era uma revolução.
Os governos diziam que era um avanço.
As celebridades diziam que era o futuro.
Mas o cartório… ah, o cartório entrou em colapso.
As certidões de nascimento passaram a ter três nomes. Mãe. Pai de criação. Pai biológico.
E esse último, na maioria das vezes, era europeu, norte-americano ou algum nobre esloveno com mandíbula simétrica.
Aos 18 anos, milhares de jovens começaram a pedir cidadania com base na paternidade genética.
Foi um choque global.
O consulado da Suécia precisou abrir fila prioritária para descendentes laboratoriais.
O Canadá lançou um visto específico chamado gene-pai.
E os Estados Unidos, como sempre, surtaram.
Criaram uma CPI do DNA.
O Congresso americano tentou aprovar uma emenda que dizia que só seria considerado cidadão quem tivesse pai biológico e também curtido pelo menos três fotos do Tio Sam no Instagram.
A coisa fugiu do controle.
Tinha argentino com passaporte norueguês.
Brasileiro com sobrenome francês exigindo direito ao Louvre.
Chileno herdando castelo na Baviera.
E, claro, um goiano tentando ser presidente do Parlamento Europeu com base no tataravô genético.
No fim, os países ricos fizeram o que sempre fazem. Criaram uma cláusula.
" Agora, só é aceito quem tiver nascido com gene de europeu, mas criado com medo de boletos."
O resto?
Volta pro Brasil e tenta um green card do amor.

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