O despertador que se achava motivador

Quando até o despertador resolve assumir o papel de coach

Tudo começou quando mudei o som do despertador. Achei que trocar o alarme estridente por uma música suave faria as manhãs menos agressivas. Escolhi um trecho instrumental calmo, daqueles que parecem convite para abrir a janela e respirar fundo.

No primeiro dia funcionou. Acordei sorrindo. No segundo também. Mas no terceiro, percebi que algo estava errado. O despertador começou a falar comigo. Não de verdade, claro, mas na minha cabeça. Era como se o som dissesse frases motivacionais que eu não pedi.

Vamos lá, campeão.
O mundo te espera.
Levanta, respira e vence.

No início achei engraçado. Depois, irritante. Porque o despertador não sabia das minhas reuniões, dos boletos, da insônia da noite anterior. Ele só ficava ali, insistindo para eu me levantar como se a vida fosse uma propaganda de banco.

Resolvi trocar para um toque mais neutro. Uma batida simples, sem emoção. Mas a voz continuava.

Está pronto para o seu melhor dia.
Vai dar tudo certo.

Comecei a atrasar o horário de despertar, só para silenciar aquela motivação indevida. Um dia, desliguei o alarme e voltei a dormir. Acordei duas horas depois com o celular vibrando sozinho, como se estivesse batendo o pé impaciente.

Foi nesse momento que percebi. O despertador não queria apenas me acordar. Ele queria me treinar. Transformar minhas manhãs num ritual otimista. E eu não estava preparado para tanto compromisso emocional antes do café.

Hoje, continuo usando o mesmo toque calmo. Mas finjo que não escuto as mensagens subliminares. Deixo ele acreditar que está mudando minha vida. E, de vez em quando, para não magoar, eu agradeço.

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