O gato que trabalhava em home office
Quando a produtividade da empresa depende de um gato com talento para relatórios e sonecas
- Publicado em
- por Jean Guimarães

Ninguém sabe exatamente quando começou. Mas o computador da empresa passou a ter arquivos salvos com nomes enigmáticos como “hhhhhhhhh.pdf” e reuniões com cliques suspeitos. Era ele: o gato. Sentava na frente da câmera com autoridade, pressionava teclas aleatórias e, por algum motivo, entregava relatórios melhores que o estagiário, sem usar o ChatGPT.
No início, o pessoal achava graça. Era só mais um pet invadindo a rotina remota. Mas o tempo passou, e a participação felina começou a gerar resultados. As planilhas estavam mais organizadas. Os documentos compartilhados vinham com menos erros. A produtividade da equipe subiu do nada. Ninguém desconfiava que o animal de estimação estava, na prática, assumindo o cargo do dono.
Ele aprendeu a agendar reuniões acidentalmente, a encerrar ligações com a cara e a marcar todos os e-mails como lidos. Também passou a deitar sobre o teclado exatamente nos momentos em que o dono precisava de uma pausa. Era como um gestor intuitivo, que aplicava a política de bem-estar com pulos estratégicos e lambidas inesperadas.
Certo dia, a câmera abriu sozinha durante uma call importante. A diretoria toda assistiu ao gato olhando fixamente para a tela, com cara de quem sabia muito mais do que deixava transparecer. Alguém comentou no chat: “ele é mais carismático que nosso gerente de vendas.” O comentário recebeu onze curtidas e nenhum emoji de discordância.
Enquanto isso, o dono do gato acumulava elogios pela suposta mudança de postura. Ninguém entendia como ele dava conta de tudo com tanta leveza. Ele também não. Só sabia que o bicho não saía de cima do notebook e que todo final de expediente vinha com um relatório misterioso no drive da equipe.
Um dia, o felino aprovou sozinho um projeto piloto de automação, derrubou acidentalmente uma xícara de café em cima do mouse e bloqueou um grupo do Slack. Virou lenda no time de TI. Pediram para contratar um igual. O RH explicou que era contra a CLT contratar bichanos, mas prometeram estudar a demanda.
Hoje, o gato continua atuando em meio período, intercalando reuniões com sonecas em cima do modem. Já foi citado em duas reuniões de benchmarking. Tem até um mural interno com a foto dele usando gravata borboleta. A única exigência que fez até agora foi manter a caixa de areia longe do carregador.
No fundo, a equipe inteira sabe. Entre um clique acidental e uma planilha bem formatada, ele trouxe mais organização, empatia e senso de limite para a rotina da empresa do que qualquer consultoria de RH.

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