O homem que procurava sabe-se lá o quê
Ele só queria encontrar alguma coisa. Qualquer coisa. Mesmo que não soubesse o que era. Uma crônica sobre buscas inúteis, vazios cheios e a eterna arte de fingir que sabe o que está fazendo.
- Publicado em
- por Jean Guimarães

Ele não queria mais procurar, mas sabia que não podia parar.
Não porque tinha esperança.
Mas porque parar de procurar exige ter encontrado alguma coisa. E ele, convenhamos, mal sabia o que tinha perdido.
Começou procurando coisas simples: a chave de casa, o controle remoto, a tampa da margarina. Depois, começou a procurar coisas um pouco mais abstratas, como “sentido”, “equilíbrio emocional” e “o número do próprio CPF de cabeça”.
Às vezes, achava coisas no caminho. Um botão que não era dele. Uma saudade que também não era. Uma notificação de banco dizendo que não podia parcelar a própria vida em 12 vezes. E seguia.
“Você busca realização pessoal ou estabilidade financeira?”, perguntou uma coach em um vídeo patrocinado.
“Sim”, ele respondeu.
O vazio foi se enchendo. Não de respostas, mas de bugigangas emocionais.
Frustrações decorativas, arrependimentos de estimação, boletos vintage.
Coisas que enchem espaço, mas não preenchem nada.
Um dia, encontrou uma pedra.
Pensou: “será isso o que estou procurando?”.
A pedra não respondeu. O que, honestamente, foi maduro da parte dela.
Cansado, sentou no meio do caminho.
Mas aí veio um algoritmo e mostrou que outras pessoas também estavam procurando.
E tinham encontrado algo incrível em apenas 6 passos, 3 minutos e um infoproduto.
Voltou a procurar.
Hoje ele anda por aí, com uma sacolinha de pano cheia de quase.
Procura nos lugares mais improváveis: comentários de redes sociais, conversas de elevador, embalagens de biscoito.
E sempre que alguém pergunta o que ele tá buscando, ele responde:
— Tô só dando uma olhadinha.

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