“Quincas Borba”, de Machado de Assis

Loucura, herança e um cachorro mais esperto que muita gente

Tem livro que a gente só entende de verdade quando cresce. Foi o que senti relendo Quincas Borba. Eu lembrava vagamente da história, daquela época da escola, mas foi só agora, adulto, que a genialidade do Machado bateu forte. É um romance triste, sim, mas com um humor afiado, personagens que parecem vivos e uma ironia que vai te esbofeteando aos poucos. E ainda tem um cachorro que rouba a cena.

 

 

Machado cria um enredo que, à primeira vista, parece simples: um homem comum que herda uma fortuna, se apaixona, se frustra, se ilude. Mas o que tem por trás disso é o que realmente importa. A crítica social, o jogo de aparências, o modo como a ambição e a ingenuidade se misturam até tudo desandar. Rubião é um personagem que desperta compaixão e raiva ao mesmo tempo. E é justamente isso que torna ele tão humano.

 

 

O tal Humanitismo, que começa parecendo piada de filósofo doido, vai ganhando espaço no fundo da narrativa. Não é só uma provocação teórica. É um retrato ácido de como a gente racionaliza a ganância, a destruição e até a loucura, se for pra manter o nosso lugar de conforto. Rubião vira meio que um laboratório dessa teoria, e o resultado é um desastre que a gente acompanha como quem vê um castelo de cartas desabar em câmera lenta.

 

 

Também me chamou a atenção como os personagens secundários são bem esculpidos. Sofia e Palha, por exemplo, formam aquele tipo de casal que parece elegante e correto, mas que esconde intenções venenosas por trás de cada palavra polida. Eles representam um tipo de falsidade refinada que continua muito atual. Machado, mais uma vez, não aponta o dedo. Ele só acende a luz. E o que a gente vê iluminado nem sempre é bonito.

"Machado escreve com uma piscadela. E quando a gente cresce, finalmente percebe."

E claro, impossível não falar do cachorro Quincas Borba. Ele não é só um detalhe cômico. Ele representa, de algum jeito, a repetição do nome, da ideia, da herança. Quase como um eco do que foi e do que sobrou. E ele é maravilhoso. Inteligente, presente, quase um narrador silencioso. Fiquei apaixonado por esse cachorro. Terminei a leitura com a certeza de que reler Machado foi uma das melhores decisões que tomei. Ele continua atual, mordaz e genial. Só que agora eu consigo ver tudo isso com muito mais clareza.

Estilo: Clássicos

Nota da Leitura:

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