As desventuras do Seu Lourival
#08
Seu Lourival e a Máquina de Café Temperamental
Quando até a máquina de café decide ditar as regras da manhã
- Publicado em
- por Jean Guimarães

Seu Lourival só queria um café. Simples, puro, sem frescura. Mas a máquina tinha outros planos.
Na primeira tentativa, cuspiu um líquido morno que lembrava chá de papelão. Na segunda, derramou espuma demais, como se estivesse preparando um cappuccino de carnaval. Na terceira, recusou-se completamente, exibindo no visor a mensagem “reflita sobre suas escolhas”.
A partir daí, a convivência ficou tensa. Toda manhã era uma negociação.
O botão expresso funcionava apenas se ele dissesse “por favor” em voz alta.
O café longo só saía quando Lourival batia palmas três vezes, como se fosse um ritual secreto.
Um dia, atrasado para o trabalho, ele tentou apressar a máquina. Péssima ideia. Recebeu como resposta uma chuva de grãos não moídos e um jato de água fervendo. Era a vingança perfeita: um café que não dava pra beber e uma cozinha parecendo cena de crime.
Chamou o técnico. O homem abriu a tampa, olhou os botões, coçou a cabeça e decretou:
— Seu Lourival, essa máquina não tem defeito. Só personalidade forte.
Resignado, Lourival aceitou o convívio. Aprendeu a negociar com bilhetes deixados ao lado do copo: “Hoje preciso muito de você.”, “Se der certo, prometo limpar direitinho.”, “Sem pressão, mas acordei cansado.”
Desde então, a máquina alterna entre momentos de generosidade e pura pirraça. Às vezes entrega o melhor café que já tomou. Às vezes, só água com cheiro de café distante.
No fundo, Seu Lourival sabe. Mais do que uma máquina, ganhou uma colega de quarto. Mal-humorada, temperamental e indispensável.

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