“Violeta”, de Isabel Allende

Uma vida atravessada por dores, amores e desastres

Uma mulher, um século inteiro de perdas e recomeços

 

Às vezes, a gente pega um livro achando que vai ser leve, e acaba com o coração em frangalhos. Violeta, da Isabel Allende, é justamente esse tipo de leitura. Uma narrativa triste, densa e profundamente humana, que vai te carregando devagarzinho, como uma carta escrita sem pressa por quem tem muito a dizer.

A história é contada pela própria protagonista, que escreve para seu neto, narrando os eventos que marcaram sua vida desde o nascimento em 1920 até os seus últimos anos. E olha, que vida. Pandemia de gripe espanhola, golpes políticos, ditaduras, amores conturbados, violência doméstica, maternidade solitária, perdas irreparáveis. Tem de tudo. Mas não como uma lista de tragédias. Tudo vem envolto em afetos, memórias e reflexões que tornam a dor ainda mais palpável.

Allende escreve com aquela delicadeza única, que transforma sofrimento em literatura sem perder a força emocional. Violeta não é uma heroína idealizada. Ela erra, julga, se contradiz. E é exatamente por isso que a gente se apega. Ela é humana demais. E em meio às tragédias do mundo, a autora parece sussurrar que sobreviver já é um ato de resistência.

A sensação é a de estar escutando uma avó contando sua vida com os olhos marejados. Não tem reviravoltas mirabolantes nem ritmo acelerado. É um livro mais contemplativo, sobre os afetos que sustentam uma vida longa demais. Em alguns momentos, confesso que desejei que a narrativa acelerasse um pouco. Mas depois entendi que essa lentidão também faz parte da experiência. Violeta teve tempo. E quer que a gente ouça tudo.

Tem também um pano de fundo histórico bem rico, que ajuda a contextualizar cada fase da vida da personagem, com passagens pela crise de 1929, ditaduras sul-americanas e movimentos feministas. Mas nada disso vira aula. Tudo surge de maneira orgânica, porque faz parte da vida da Violeta.

O que mais me pegou foram os momentos de solidão. As perdas que ela acumula, uma a uma, e que vão moldando sua forma de existir. O livro é triste, sim. Triste pra caramba. Mas também tem beleza. E talvez por isso emocione tanto. Porque é na dor que a gente reconhece a ternura.

Estilo: Romance

Nota da Leitura:

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